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Ana Castela é acusada de plágio, mas o que é plágio em universo pop em que tudo parece já ter sido ouvido antes?

Com as canções produzidas em linha industrial para abastecer o mercado, compositores deixam de ter assinatura nítida que os diferencie na história da música brasileira.
  • Categoria: Noticias
  • Publicação: 14/12/2023 20:31
  • Autor: Por Mauro Ferreira

♪ OPINIÃO – Artista mais ouvida no Brasil ao longo de 2023, conforme ranking da principal plataforma de áudio do país, Ana Castela encerra o ano com dor de cabeça.

A artista está sendo acusada de plágio pelo compositor Luan Kaique Vieira Castelan, conhecido artisticamente como Luan Kastelan. Na realidade, Kastelan está processando não somente Ana Castela, mas todos os oito compositores da música Solteiro forçado (2023).

Composição lançada pela cantora no álbum audiovisual Boiadeira internacional (2023), Solteiro forçado é música de autoria creditada a Ana Castela, Raphael Soares, Rodolfo Alessi, Mateus Félix, Vinicius Poeta, Léo Souzza e Benicio Neto.

Kastelan vê semelhança entre as melodias de Solteiro forçado e Lado direito da cama (2020), balada que compôs em parceria com Dant e que lançou há três anos.

A rigor, somente musicólogos e peritos no assunto poderão atestar, na Justiça, se fato há semelhanças melódicas entre as duas músicas a ponto de ser configurado um plágio.

A questão a ser levantada, fora da esfera judicial, é qual o conceito de plágio em um universo pop em que tudo parece já ter sido ouvido antes. Atualmente, as músicas – em grande maioria – já soam déjà vu assim que são lançadas.

É que a produção musical brasileira dos anos 2020 está sendo cada vez mais enquadrada em linha industrial regida por fórmulas e receitas de sucesso. Essa produção genérica abastece sobretudo o universo sertanejo e os gêneros do mainstream, como o funk, o forró e o pagode.

Em tempos idos, reconhecia-se facilmente o D.N.A. de um compositor quando se ouvia uma música. Há uma assinatura nítida nos cancioneiros de Chico Buarque, Milton Nascimento, Djavan, Joyce Moreno, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata... para citar somente seis nomes que construíram obras fora da fórmula. A cópia, no caso, é fruto de fórmulas usadas a exaustão. De todo modo, que seja sempre feita a Justiça em qualquer acusação de plágio!



Hoje são raros os compositores realmente originais. Pode-se citar Tim Bernardes, Marília Mendonça (1995 – 2021) e alguns outros poucos nomes como exceções de uma regra. E a regra imperativa no mercado é fazer música para consumo imediato, com a mesma linguagem, com batidas e sonoridades similares.

É óbvio que nada disso tira a razão de Luan Kastelan se for comprovada na Justiça uma real semelhança da melodia da balada Do lado direito da cama com a de Solteiro forçado.

Plágio é plágio e merece ser punido se feito com consciência. Mas cabe lembrar que, no universo pop, parece valer cada vez mais a velha máxima do apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros 1917 – 1988), o Chacrinha, que sentenciou que “nada se cria, tudo se copia”.