Notícias

Seu Jorge segue o baile em álbum que alterna suingues carioca e baiano sem misturar os dois universos musicais

Cantor lança disco festivo, criado com Magary Lord e Peu Meurray, dois importantes artistas de Salvador.
  • Categoria: Noticias
  • Publicação: 20/02/2025 06:19
  • Autor: Por Mauro Ferreira

Título: Baile à la baiana

Artista: Seu Jorge

Cotação: ★ ★ ★

 Anunciado por Seu Jorge em janeiro de 2021, o álbum Baile à la baiana chega ao mundo quatro anos depois com boas vibrações e com discurso que alardeia a harmonização da música carioca com o suingue afro-pop-baiano dos sons de Salvador (BA).

Foi nessa cidade que Jorge conheceu dois cantores e compositores baianos, Magary Lord e Peu Meurray, em espaço cultural intitulado Galpão Cheio de Assunto e liderado por Meurray, requisitado percussionista da capital da Bahia. Ambos são nomes fundamentais na criação do disco disponibilizado no domingo, 16 de fevereiro.

Só que, na teoria, a prática é outra. O que se ouve em Baile à la baiana é som sempre festivo, calcado ora no suingue matricial das obras dos pioneiros cariocas Jorge Ben Jor, Tim Maia (1942 – 1998) e Wilson Simonal (1938 – 2000), ora no balanço do samba baiano, da chula e de outros gêneros rotulados genericamente como axé music.

Ao longo de 11 faixas que alinham repertório formado por seis composições inéditas e cinco músicas já gravadas por nomes da Bahia entre 2012 e 2021, Seu Jorge transita entre esses dois ricos universos musicais sem realizar propriamente a fusão entre os dois mundos.

Em qualquer vertente, o cantor segue o baile com som moldado para as baladas, seja essa balada uma festa baiana ou um baile black de soul, funk e samba-soul.

A primeira parte do Baile à la baiana contradiz o título do álbum com faixas essencialmente à moda carioca, típicas da discografia de Jorge, cantor e compositor revelado nos anos 1990 como vocalista do grupo Farofa Carioca.

Nesse bloco inicial, os arranjos de músicas como Sábado à noite (Seu Jorge, Magary Lord, Peu Meurray e Adriano Tenório), Sete prazeres (Seu Jorge e Peu Meurray) e Sim mais (Seu Jorge, Peu Meurray e Erik Firmino) evidenciam os sopros, e não o baticum que sustenta boa parte da música baiana. Batuque (Seu Jorge, Magary Lord e Peu Meurray), por exemplo, está longe de ser faixa de acento percussivo, como sugere o título.




Nem o canto de Peu Meurray – convidado de Jorge em Gente boa se atrai (Peu Meurray, Fefê Gurman, Betão Aguiar e Tito Oliveira), no samba-rock Mudou tudo (Seu Jorge e Peu Meurray) e na já mencionada Sete prazeres – atenua a predominância do suingue carioca nessa (repetitiva) parte inicial do álbum.

O tempero baiano fica forte somente a partir da aliciante sexta faixa, Chama o Brasil pra dançar (Magary Lord, Paulo Bass e Don Chicla, 2018), esta, sim, música formatada com o balanço buliçoso da Bahia preta. Tanto que foi lançada pela Banda Eva há sete anos.

Composição caracterizada como “black semba”, Shock tem a assinatura de Pierre Onassis, parceiro de Seu Jorge e Magary Lord nesta faixa também situada na Bahia e já lançada por Magary em single de 2021. Onassis – cabe ressaltar – é um dos grandes compositores da música baiana unificada sob o abrangente rótulo de axé music.

No álbum Baile à la baiana, Pierre Onassis também assina Lasqueira (2023) em parceria com Fábio Alcantâra e Magary Lord, que participa como cantor dessa faixa lançada em single há dois anos pelo próprio Magary (como Ê lasqueira) e entranhada no sobe-e-desce das ladeiras de Salvador (BA), assim como Amor de canudinho (Magary Lord e Samir Trindade, 2019).

Lançada há seis anos na voz de Magary Lord, Amor de canudinho poderia figurar no disco de qualquer nome da já quarentona axé music. Assim como a última faixa do álbum, Dia de mudança (Magary Lord, Fábio Alcântara, Samir Trindade e Magno Santana, 2012), cantada por Seu Jorge com Magary Lord, intérprete original da música lançada há 13 anos com o título de Mudança e ora revivida por Jorge na cadência do samba-rock.

Enfim, Baile à la baiana termina com a sensação de que Seu Jorge dividiu o disco em duas partes bem distintas – com superioridade do bloco de faixas baianas – sem realizar de fato a alardeada harmonização entre a música carioca e os sons de Salvador (BA).